A Economia Social – Proximidade e Distanciamento
Eduardo Graça
Jornal Vivadouro, Agosto 2020
Um dos males maiores da pandemia provocada pela COVID19, além dos efeitos clínicos da doença, das mortes e sequelas provocadas nos curados (ainda mal conhecidas), é a designação de uma das medidas preconizadas para a prevenir: “distanciamento social”. (pretender-se-ia dizer “distanciamento físico”!).
Não cabe nesta breve crónica um desenvolvimento circunstanciado acerca desta infeliz (diria, catastrófica) designação, nas antípodas dos princípios e quotidiano da vida em sociedade desde tempos imemoriais, fundados no gregarismo e na proximidade social.
Esta questão tem sido abordada por defeito, desmerecendo a sua importância e impacto no comportamento dos cidadãos, normalizando uma política de assunção do medo que, queiramos ou não, integra um movimento mais vasto de limitação das liberdades e enfraquecimento da democracia.
A Economia Social situa-se, pelos seus princípios e prática generalizada das entidades que a integram, nas antípodas do “distanciamento social”, prestando serviços de proximidade, a partir do seu enraizamento nas comunidades locais, contribuindo fortemente para a coesão social e o desenvolvimento sustentável das regiões, em particular no interior do país, sujeito, desde há décadas, a um processo de desinvestimento material e de perda de capital humano.
É uma economia à dimensão do homem, orientada para dar resposta às necessidades reais das pessoas; está no mercado mas não é especulativa, é sustentável; as suas organizações não se deslocalizam, fazem parte das comunidades; não é uma economia orientada para o lucro (inerente às sociedades de capital) mas deve gerar excedentes reinvestidos nas próprias organizações assim como nas comunidades onde se inserem.
Em Portugal está consagrada na Constituição da República e na Lei da Bases de 2013, precisa crescer e consolidar-se, dar-se a conhecer e ser reconhecida; pode e deve existir em Portugal um associativismo livre mais forte, uma iniciativa cidadã mais pujante, mais cooperação em todo os domínios da nossa vida económica, social e cultural. A Economia Social é forte nos países ditos ricos: EUA, Canadá, Alemanha, países nórdicos, Espanha, França, mas também na China, Irão, India, Brasil, para citar apenas alguns.
Em Portugal, a Economia Social está em condições de crescer, regenerar-se e tornar-se também mais forte. As “CERCIS” são Economia Social, as “Caixas de Crédito Agrícola” são Economia Social, a “Agros” é Economia Social, a “Sociedade Portuguesa de Autores (SPA)” é Economia Social, as “Misericórdias Portuguesas” são Economia Social, as Mutualidades são Economia Social, as “Casas do Povo” são Economia Social, todas as entidades com estatuto de IPSS são Economia Social.
Mas as palavras só não bastam. Nestas áreas, como em tantas outras, o país precisa de pensamento, reflexão, mas também de iniciativa e ação modernizadora, em particular nos tempos difíceis das crises, como a presente, que exigirá, no próximo futuro, um gigantesco esforço de recuperação e reconstrução com os olhos postos na reafirmação doutrinária e na prática dos valores da proximidade, cooperação e solidariedade.
Em tempo de pandemia, e no incerto futuro que nos espera, a Economia Social, de forma discreta, mas efetiva, com suas virtudes e defeitos, seus riscos e certezas, faz falta ao país e o país precisa da Economia Social. Para criar mais riqueza autossustentada, mais emprego digno e permanente, para combater o “distanciamento social”, contribuindo para mais coesão social e territorial.
Eduardo Graça, Presidente da Direção da CASES