O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, assinala a luta das mulheres pela igualdade de género em todas as esferas da sociedade e da economia. Tal inclui domínios tão variados como a igualdade de oportunidade na participação cívica, na educação, no emprego, na conciliação da vida profissional e privada ou até no combate à discriminação salarial.
A igualdade de género e o empoderamento das mulheres surgem assim como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, embora também integre todas as dimensões do desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Neste contexto, o modelo cooperativo baseado em princípios de livre adesão, equidade, solidariedade, tomada de decisão participativa e propriedade comum, pode desempenhar um papel fundamental de expansão das oportunidades para a igualdade de género. As Cooperativas são espaços inclusivos onde as mulheres podem criar as suas próprias oportunidades de trabalho, superar a exclusão económica, promover a sua educação e capacitação, e onde por meio da governança democrática podem envolver-se na tomada de decisões e partilha de poder e responsabilidades.
Nesse sentido, e porque este dia serve igualmente para dar reconhecimento à importância e contributo da mulher na sociedade, a CASES – Cooperativa António Sérgio para Economia Social, dá destaque ao papel que milhares de mulheres desempenham no Sector Cooperativo português, o qual poderá ser observado em três vertentes: a mulher cooperadora, a mulher dirigente e a mulher trabalhadora.
Segundo dados do Inquérito ao Sector da Economia Social (ISES), em 2018, 8 em cada 100 portugueses eram membros de uma Cooperativa, o que representava mais de 800 mil pessoas. Embora esse inquérito nada revelasse quanto ao género, considerando dados do Portal de Credenciação Cooperativa da CASES, estima-se que cerca de 40% dos cooperadores em Portugal sejam mulheres. Tal revela que, neste domínio, o movimento cooperativo ainda surge predominantemente masculino.
Em linha com o referido acima, também a direção das Cooperativas, de acordo com o ISES, tende a ser maioritariamente masculina, observando-se que apenas 23% dos cargos de direção de topo são desempenhados por mulheres e que apenas 19% dos dirigentes de topo são do sexo feminino.
Já no que toca ao número de pessoas ao serviço com vínculo laboral no Sector Cooperativo, revela-se que no conjunto de mais de 25 mil trabalhadores em 2018, 56% eram mulheres. Neste âmbito, é de salientar que 49,6% das funções de direção intermédia eram desempenhadas por mulheres, o que indica uma quase paridade entre homens e mulheres no que toca a este nível hierárquico de chefia.
Considerando que são os trabalhadores que representam a maior fatia dos recursos humanos na generalidade das organizações, os dados acima, à semelhança do que é observado também no restante sector da Economia Social, apontam para uma presença em maioria das mulheres no Sector Cooperativo, embora a sua participação seja ainda muito desigual, quer no que toca à tomada de decisão, quer no que toca à adesão ao movimento cooperativo.
Porém, importa salientar que cerca de 17% das Cooperativas já criaram “quotas” para assegurar limiares mínimos de representação por sexo. Ademais, as Cooperativas são a família da Economia Social que apresenta a maior paridade entre homens e mulheres, quer no conjunto de trabalhadores, quer nas funções de direção intermédia, o que, por inerência, torna o peso de mulheres empregadas em cargos de chefia (intermédia) nas Cooperativas (7,8%) superior ao observada na Economia Social (6,9%). Este valor compara também muito favoravelmente com a percentagem de mulheres em cargos de chefia (todos os cargos de direção) na Economia Nacional (2,3%).
Também no âmbito da igualdade de género, em particular no domínio remuneratório, de revelar que no Sector Cooperativo estima-se que um homem ganhe por hora mais €1,40 que uma mulher. Embora este gap salarial seja ainda uma realidade, surge como um dos mais pequenos no conjunto das famílias da Economia Social – quase metade do observado no Sector – e muito alinhado com o que se observa na Economia Nacional, constatando-se mesmo que o ganho médio horário feminino no Sector Cooperativo é superior ao ganho médio horário feminino nacional.
Não obstante, importa notar que estes dados, embora apontem para diferenças salariais entre géneros, nada indicam quanto à existência de discriminação salarial no exercício de funções igualáveis, uma vez que, essas diferenças poderão ser explicadas por vários fatores como características individuais (por exemplo o nível de escolaridade) e/ou pela segregação de géneros nos âmbitos setorial e ocupacional (mais mulheres em setores/profissões onde se auferem remunerações médias mais baixas). Saliente-se a este respeito que mais de 75% das Cooperativas adotam políticas de paridade salarial, valor ligeiramente superior ao identificado na Economia Social (71%).
Em suma, constata-se que em matéria de participação cooperativista, questões remuneratórias e, sobretudo, na representatividade feminina em cargos de direção de topo, no Sector Cooperativo são ainda notórias desigualdades entre homens e mulheres. No entanto, é inegável o contributo que o Sector Cooperativo tem para a inclusão da mulher no mercado de trabalho em Portugal, onde o sector se releva, pelo menos em matéria de participação, mais equitativo que as restantes famílias da Economia Social.
Importa também referir que, considerando a existência de limites temporais aos mandatos da direção de topo das Cooperativas, e uma concentração dos seus dirigentes em classes etárias mais elevadas, a curto-médio prazo muitas destas organizações terão de renovar os seus dirigentes. Tal cria a oportunidade de preparar essa renovação através da aposta na maior representatividade feminina na tomada de decisão, o que, por seu turno, poderia trazer benefícios também para a redução do gap salarial e para a maior adesão feminina ao movimento cooperativista.
Por último, embora a igualdade de género, em oportunidades, direitos e responsabilidades, seja um tópico muito mais denso e complexo do que é possível captar pelos dados acima assinalados, esta informação, e este dia, criam o espaço necessário para celebrar os direitos que as mulheres conquistaram até agora, mas também para relembrar que ainda há muito por fazer, incluindo no Sector Cooperativo.
Estes e outros resultados a respeito do retrato da mulher no Sector Cooperativo serão explorados em maior pormenor num relatório que será divulgado em abril.