SPA FESTEJA OS SEUS 95 ANOS SEM PÚBLICO MAS COM A FIRMEZA SOLIDÁRIA DE QUEM LUTA PELA CULTURA
Caros cooperadores,
A Sociedade Portuguesa de Autores comemora hoje 95 anos de vida, mas, por imposição da pandemia, fá-lo sem público e sem eventos, esperando que cheguem melhores dias, com saúde e confiança.
Nunca os autores portugueses enfrentaram, em muitas décadas, uma situação tão grave de privação e dolorosa incerteza em relação ao futuro.
A SPA fez tudo o que estava ao seu alcance para dar respostas à crise, colocando de imediato uma verba de 100 mil euros ao serviço dos cooperadores, adquirindo mais de mil máscaras e um ventilador, criando um prémio de criatividade tecnológica e dialogando com o o Presidente da República, com o governo e com outras entidades do sector. A grande urgência foi garantir disponibilidade financeira para o pagamento dos salários e para o reforço da solidariedade com os autores, por ser essa grande prioridade estratégica da instituição nesta hora dramática. Até ao final do ano, a cooperativa poderá ter um grave prejuízo da ordem do 30 por cento da sua facturação anual, o que a limita a todos os níveis.
Muito mais irá ser feito enquanto se espera que o desejável regresso à normalidade volte a dar espaços e público para que os criadores e os artistas realizem o seu trabalho. Entretanto, como não podia deixar de ser, foi adiada ou cancelada toda a agenda cultural da cooperativa, com destaque para a gala anual no CCB, o que também irá ter expressão na gestão da empresa com medidas que oportunamente anunciaremos, convictos de estarmos a servir a maioria com os meios de que dispomos.
Com grandes responsabilidades internacionais, também por via da cooperação lusófona, a SPA mantém e honra os seus compromissos, sabendo que as suas congéneres enfrentam dificuldades similares e que ainda ninguém sabe como irá ser a vida cultural europeia nos próximos tempos e também a vida dos autores e dos artistas. Depois dos tempos de ausência vêm os de uma prolongada e dolorosa incerteza acompanhados de um visível e incontornável ponto de interrogação.
Por isso, o dia de festa que hoje nos devia mobilizar e juntar é acima de tudo um tempo de reflexão e de mobilização de energias para os combates seguintes.
Os trabalhadores da cooperativa, primeiro em regime de teletrabalho e agora com o progressivo regresso às suas funções e responsabilidades, têm estado à altura do desafio, também por saberem que dessa atitude depende a sustentabilidade dos seus postos de trabalho e ainda a sempre desejável capacidade de intervenção da SPA, casa dos autores e para os autores.
Hoje não foram entregues Medalhas de Honra, Prémios Prós-Autor e outras importantes distinções mas tivemos um dia de trabalho com a dedicação e a competência de toda as horas. Tudo o que iremos mudar será para fortalecer a cooperativa dos autores portugueses cujo futuro deverá também levar em conta as inevitáveis consequências da actual adversidade.
Em Junho criámos condições para que concretize uma distribuição que corresponda às expectativas e necessidades dos autores e que reflecte sobretudo o trabalho realizado em 2019 e que agora procura as indispensáveis condições de sustentabilidade. Com 26 mil associados, oito delegações e mais de 160 trabalhadores, a SPA saberá estar à altura das suas responsabilidades e deveres.
Como responsável por uma vasta equipa e representante da SPA na Direcção do Grupo Europeu de Sociedades de Autores em Bruxelas, sei que iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que a cultura não deixe de ter um papel central na nossa vida económica, social e espiritual, sem permitir que nossa unidade combativa seja derrotada pelas feridas que a pandemia abriu e que só o tempo, o trabalho e a confiança colectiva conseguirão fazer cicatrizar. Outras datas e efemérides virão para ser comemoradas condignamente e para nos manter activos em nome do muito que sempre se espera de nós e que nós devemos a Portugal e aos Portugueses.
Lisboa, 22 de Maio de 2020
José Jorge Letria
Presidente da Direcção
e do Conselho de Administração
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